Os desafios relacionados aos problemas músculo-esqueléticos em Angola fazem parte constante do meu dia-a-dia como ortopedista. Os problemas músculo-esqueléticos englobam condições que afetam os ossos, músculos, articulações e ligamentos, impactando significativamente a mobilidade e a qualidade de vida das pessoas. Eu, Dr. Castillo, tenho testemunhado de perto os impactos que tais condições causam na vida de muitos pacientes, desde as áreas urbanas densamente povoadas até às regiões rurais mais isoladas. Na nossa realidade, dificuldades no sistema de saúde, ambientes de trabalho desafiadores, elevado número de acidentes e limitações económicas tornam os diagnósticos e tratamentos mais complexos. Apesar desses obstáculos, sinto-me motivado a compartilhar reflexões e experiências relacionadas à necessidade de reforçar o sistema de saúde, melhorar a prevenção de acidentes e promover acesso equitativo a tratamentos, como forma de sensibilizar para as mudanças que precisam ser implementadas.
Contexto geral dos problemas músculo-esqueléticos em Angola
Durante a minha prática médica, tenho observado que uma grande parte das condições músculo-esqueléticas são resultado de fracturas mal tratadas, doenças degenerativas ou desgaste físico ao longo do tempo. Estima-se que até 30% dos pacientes em regiões com poucos recursos apresentam complicações devido à falta de tratamento adequado. Um exemplo foi o caso de um jovem que chegou ao consultório meses após uma fractura simples, evoluindo para complicações graves. Outro caso envolveu um motorista que desenvolveu uma infecção óssea séria após atraso no atendimento pós-acidente. Estas situações ilustram como a carência de recursos impacta negativamente o atendimento médico em muitas partes de Angola.
Principais causas dos problemas músculo-esqueléticos
1. Condições de trabalho em Angola
O trabalho no país é predominantemente manual, seja na construção, agricultura ou mineração, expondo a população a múltiplos riscos físicos. Muitos trabalhadores, como pedreiros, frequentemente enfrentam dores crónicas na coluna devido a anos de trabalho pesado sem qualquer tipo de treino ou preparação. Na sua cidade natal, faltam até aparelhos básicos para diagnóstico, o que faz o tratamento dessas condições se tornar ainda mais difícil.
2. Falhas na infra-estrutura de saúde
Já visitei muitas províncias angolanas onde a precariedade dos serviços de saúde é alarmante. Em algumas localidades, os hospitais não tem aparelhos de raio X ou não possuem especialistas em ortopedia. Recordo-me de um paciente, no Centro Evangélico de Medicina do Lubango, que tinha ficado meses com uma fractura mal imobilizada devido à ausência de médicos e de materiais necessários para uma cirurgia no seu hospital de referencia. Essa situação, que não é unica, reflete um impacto sistêmico preocupante, pois a precariedade prolonga o sofrimento dos pacientes, aumenta a morbidade, e eleva os custos, economicos e sociais, de tratamento a longo prazo.
Para enfrentar esses desafios, é crucial investir em capacitação médica, modernização dos equipamentos e incentivar parcerias público-privadas. Um exemplo seria a replicação de programas que levaram unidades móveis de saúde a áreas remotas, fornecendo atendimentos especializados e diminuindo barreiras de acesso. Casos como este são um lembrete constante da urgência em melhorar a infra-estrutura de saúde de forma planejada e sustentável.
3. Impactos de acidentes de trânsito
Os acidentes rodoviários representam uma das causas mais frequentes de fracturas e traumatismos no país, com estatísticas indicando que cerca de 30% das internações hospitalares em ortopedia estão relacionadas a acidentes nas estradas. Em Benguela, tratei uma jovem que sofreu múltiplas lesões num acidente rodoviário numa estrada sem sinalização. A gravidade dos seus ferimentos foi agravada pela ausência de um sistema de emergência eficiente. Esses exemplos ilustram como a falta de infraestrutura adequada e a imprudência no trânsito não apenas colocam vidas em risco, mas também sobrecarregam significativamente o sistema de saúde. Campanhas de conscientização e parcerias para melhorar as condições das vias podem ser passos importantes para mitigar esses problemas.
4. Doenças reumáticas e infecciosas
Entre as doenças que trato, a tuberculose óssea é uma das mais desafiantes devido à dificuldade de diagnóstico e falta de terapias modernizadas em muitas zonas. A artrite reumatóide também surge frequentemente nos meus consultórios e, infelizmente, ainda é subdiagnosticada devido à falta de acompanhamento adequado. Estes casos revelam os limites no acesso ao tratamento contínuo e especializado.
Histórias como estas ressaltam a disparidade entre os recursos disponíveis nos centros urbanos e nas áreas rurais, além de sublinhar a necessidade urgente de mais profissionais de saúde e de clínicas melhor equipadas.
Propostas de Melhorias
Ensino à Distância das Ciências Músculo-Esqueléticas
Uma das iniciativas já em curso que considero promissoras é o ensino à distância, através da plataforma Ortopedikus, que utiliza o sistema MLS Moodle. Este tipo de solução facilita a disseminação de conhecimentos sobre saúde músculo-esquelética, não apenas para médicos em formação mas também para outros profissionais da área da saúde em regiões mais remotas de Angola.
Uso de tecnologias sustentáveis no contexto angolano
Adoptar soluções tecnológicas que sejam sustentáveis e acessíveis no contexto actual do país, como equipamentos médicos de fácil manutenção local, poderia melhorar consideravelmente a capacidade de diagnóstico e tratamento em hospitais e clínicas pequenas.
Programas Básicos de superação para paramedicos
Desenvolver programas de capacitação básica para paramédicos e prestadores de primeiros socorros é essencial, considerando a importância do atendimento nos momentos iniciais, especialmente em zonas rurais onde médicos podem não estar sempre disponíveis.
Melhorias no ensino de Ortopedia e Traumatologia
Reforçar a formação de profissionais da saúde nas áreas de ortopedia e traumatologia nos cursos universitários é imperativo, garantindo que novos médicos estejam mais preparados para lidar com os variados casos músculo-esqueléticos que surgem no país.
Investimentos no sector da Saúde
Formar mais especialistas, adquirir equipamento moderno e expandir as infra-estruturas médicas são passos cruciais. Eu mesmo dedico parte do meu tempo a treinar jovens médicos, mas este esforço precisa ser fortalecido em nível institucional.
Conclusão
A minha jornada em Angola, como Dr. Castillo, tem sido repleta de desafios diários, mas também de lições valiosas. O sistema de saúde enfrenta imensas dificuldades, mas acredito que, com união, esforço profissional e políticas públicas eficazes, é possível alcançar um futuro mais promissor. Continuarei a exercer esta missão com esperança e dedicação, imaginando sempre um país onde os problemas músculo-esqueléticos sejam melhor prevenidos e tratados.