As órteses 3D representam uma oportunidade única para transformar o tratamento de lesões ortopédicas na África. Devemos aproveitar as oportunidades desta nova tecnologia, para melhorar significativamente o tratamento dos doentes com distúrbios osteoarticulares. Mas antes, permite-me fazer uma breve análise acerca das órteses em 3D.
Ao contrário das órteses tradicionais, que muitas vezes são moldadas manualmente, as órteses 3D são fabricadas por meio de impressoras 3D, utilizando materiais plásticos especiais. Também conhecidas como exoesqueletos ou tutores em 3D, basicamente é um dispositivo ortopédico personalizado, criado a partir de um modelo digital do paciente. São estruturas suficientemente rígidas como para conservar imobilizada uma fractura, uma articulação com entorse ou uma ferida que precisa de repouso para cicatrizar. No caso da ortopedia propriamente, as órteses em 3D podem substituir os coletes no tratamento das escolioses, manter a redução depois da correcção dos pés tortos ou conservar a estabilidade da espinha em casos de destruição degenerativa ou infecciosa dos corpos vertebrais.
O processo de criação de uma órtese 3D envolve as seguintes etapas:
- Captura de dados: Um modelo 3D da parte do corpo que necessita da órtese é criado. Isso pode ser feito através de diferentes técnicas, como:
- Escâner 3D: Um dispositivo captura milhares de pontos de dados da superfície do corpo, gerando uma imagem tridimensional precisa.
- Imagens de ressonância magnética (RM) ou tomografia computadorizada (TC): Essas imagens médicas podem ser convertidas em modelos 3D.
- Design da órtese: Um software especializado é utilizado para projetar a órtese, levando em consideração as medidas do paciente, o tipo de lesão e a função que a órtese deve desempenhar. Existem softwares abertos para este trabalho ou também pode ser um de pagamento.
- Impressão 3D: O modelo digital da órtese é enviado para uma impressora 3D, que fabrica a peça camada por camada, utilizando um material plástico biocompatível e resistente.
- Acabamento e ajuste: A órtese impressa em 3D pode passar por um processo de acabamento, como lixamento e pintura, para garantir um ajuste confortável e estético.
Os materiais mais utilizados na impressão 3D são polímeros termoplásticos, que se liquefazem quando aquecidos e solidificam ao resfriar, permitindo a criação de objetos camada por camada. Certamente que estes polímeros, junto com os requerimentos inerentes à confecção da órtese, podem aumentar os custos do tratamento. Empresas e iniciativas estão desenvolvendo filamentos a partir de resíduos plásticos, como garrafas PET e embalagens plásticas. Esses filamentos oferecem uma alternativa mais sustentável, além de ajudar a reduzir a quantidade de plástico nos aterros sanitários. A estudos que alertam sobre que a produção de filamentos reciclados pode ser mais cara que a de filamentos virgens.
Como as órteses 3D podem dinamizar o tratamento?
- Diagnóstico mais preciso: A criação de modelos 3D a partir de imagens médicas permite uma avaliação mais detalhada das lesões, facilitando o planejamento do tratamento.
- Tratamento mais eficaz: Órteses personalizadas proporcionam um suporte ideal para a recuperação, acelerando o processo de cicatrização.
- Redução de complicações: O ajuste preciso das órteses diminui o risco de irritações e feridas, comuns em órteses tradicionais.
- Empoderamento dos pacientes: A participação ativa dos pacientes no processo de criação das órteses aumenta a adesão ao tratamento e a satisfação com os resultados.
- Leveza: Os materiais utilizados na impressão 3D são geralmente mais leves que os materiais tradicionais, o que proporciona maior conforto ao paciente.
- Rapidez: O tempo de produção de uma órtese 3D é significativamente menor do que o de uma órtese tradicional.
- Higiênica: As órteses 3D são fáceis de limpar e desinfetar.
Toda tecnologia inovadora traz consigo desafios e oportunidades. No caso das órtese 3d temos:
Desafios:
- Custo da tecnologia: A aquisição de impressoras 3D e softwares especializados pode ser um desafio para muitos países africanos.
- Falta de profissionais qualificados: É necessário investir na formação de técnicos e engenheiros especializados em impressão 3D e órteses.
- Infraestrutura: A falta de eletricidade e internet em algumas regiões pode limitar o uso da tecnologia.
Oportunidades:
- Parcerias público-privadas: A colaboração entre governos, empresas e organizações não governamentais pode acelerar a implementação de programas de órteses 3D.
- Impressão 3D distribuída: A criação de redes de impressoras 3D comunitárias pode democratizar o acesso a órteses.
- Pesquisa e desenvolvimento: O investimento em pesquisa pode levar ao desenvolvimento de materiais mais baratos e eficientes para a produção de órteses 3D.
Em resumo, as órteses 3D representam uma grande promessa para a melhoria do tratamento de lesões musculoesqueléticas na África. Ao oferecer soluções personalizadas, acessíveis e eficazes, essa tecnologia pode transformar a vida de milhões de pessoas, promovendo maior independência, qualidade de vida e inclusão social.