A evolução natural da Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ) é a disfunção articular programada. A anca não tratada pode estar deslocada totalmente ou ficar instável ou subluxada. Em qualquer caso o resultado será a degeneração precoce em maior ou menor grau. Muitos autores acreditam que muitas das coxartroses idiopáticas, em adultos jovens, tem como base uma displasia não tratada.
A DDQ é um distúrbio infrequente e pouco diagnosticado em nosso meio. Não é fácil identificar as alterações subtis na anca de um recém nascido aparentemente saudável. Principalmente para quem não está familiarizado com o sistema musculoesquelético imaturo.
Mesmo em sistemas de saúde pública melhor estruturados que o nosso, não poucas DDQ são diagnosticadas tardiamente. Para minimizar a situação alguns países implementam programas de triagem bem apertados.
A etiologia da Displasia do Desenvolvimento do Quadril (DDQ) é desconhecida. Há predomínio de doença esquerda (64,0%) e unilateral (63,4%). A incidência por 1.000 nascidos vivos varia de 0,06 na África a 76,1 em “nativos” norte-americanos . Tal como em outros distúrbios é difícil (quase impossível) encontrar dados que ilustram o comportamento da displasia da anca nas crianças angolanas.
Em outros artigos descrevo o panorama da ortopedia em Angola, caracterizado por serviços assoberbados pela epidemia de trauma. Pouco espaço resta para o atendimento dos problemas puramente ortopédicos.
Tendo em conta a origem comum dos povos da África Austral, povos bantu, não é inapropriado utilizar o contexto sulafricano como referência para o nosso.
A displasia da anca é quase desconhecida nos povos Bantu da África do Sul, excepto nos casos em que a displasia faz parte de um distúrbio mais generalizado ou exista algum grau de mestiçagem. Há evidências de que os fatores genéticos intrínsecos na displasia da anca superam, em muito, os fatores extrínsecos em importância. Isso explica o porque mesmo nas zonas urbanas, onde não é tão frequente colocar os bebês nas costas, o comportamento da DDQ não se altera.
A baixa incidência deste distúrbio em nosso meio tem um efeito nocivo. A DDQ não aparece no raciocínio dos médicos pediatras com a frequência que deveria. Talvez por isso as crianças com DDQ em nosso país são quase sempre diagnosticadas tardiamente.
Que crianças devem ser submetidas a estudo ecográfico do quadril?
– Apresentação pélvica
– Artrogripose
– História familiar positiva (diagnóstico anterior de DDQ em um dos familiares de primeiro grau)
– O torcicolo congênito
– Presença de metatarso aducto ou pé torto (incidência de 60% de DDQ em pacientes
com talipes metatarso aduto)
Em estudos de meta-análise de factores de risco relacionados ao DDQ, a apresentação pélvica foi relatada como o maior factor de risco estatisticamente significativo. Segundo eles, todo neonato, como apresentação pélvica (ou algum dos outros factores de risco) deve ser considerado candidato à triagem ultrassonográfica para avaliação imediata.
Desafios da anca displásica na criança angolana